Eu não sei você, mas se eu fizer um mix de imagens honestas e mini vídeos do meu 2024 de forma aleatória, 70 % dos registros – ou mais -, se existissem, seriam de momentos ruins. Momentos tristes, angústias, incertezas, choro, discussões, e por aí vai. A quantidade de vezes que eu não achei que fosse resolver um problema momentâneo passou da conta.

E não. Minha vida não está ruim. Curiosamente, foi um ano muito bom para mim em vários aspectos e de um sentimento majoritário de gratidão, satisfação e felicidade. Isso é estranho para você? Conflitante?

Talvez sim, já que as pessoas, de forma geral, têm um entendimento péssimo sobre emoções e sentimentos. Haja vista o grande movimento em torno das palavras “tristeza” e “felicidade” que rolou nesse fim de 2024. Você viu isso?

Terminamos 2024 falando sobre como fomos felizes (Trend: “Como vou ser triste em 2024 se…) e já iniciamos 2025 desejando a mesma coisa de forma indiscriminada. Feliz 2025 e feliz ano novo para todo mundo, independentemente do quão complexo ou possível isso venha a ser.

A forma como usamos essa palavra me incomodou haja visto o contínuo desconhecimento sobre o assunto em tempos de tanta informação disponível.

Veja bem. Tristeza é uma emoção. Isso significa que se trata de uma resposta neurobiológica programada e automatizada. Assim como alegria, raiva, medo, nojo… Emoções são como “ondas”. Elas vêm e vão. Elas surgem, mas depois passam. Sendo assim, se você é um ser humano, é natural, saudável e previsível que você sinta cada uma dessas emoções muitas vezes. Sendo assim, por que vemos tanto problema em sentir tristeza? E qual sentido de dar a entender que você não foi triste durante o ano simplesmente porque passou alguns momentos e alegres (ou até felizes)?

Diferentemente das emoções, felicidade é um sentimento mais amplo e complexo. É mais subjetivo, varia de pessoa para pessoa e diz mais respeito a uma percepção e uma interpretação. Emoções (como tristeza ou raiva) ativam áreas no cérebro similares e respostas fisiológicas também. A felicidade não. Ainda que alguns elementos básicos estejam envolvidos para que uma pessoa se sinta feliz (ter relações saudáveis, comida disponível, percepção de gratidão sobre a vida, etc), cada um vai se sentir feliz de uma forma quase única e exclusiva.

Justamente pelo significado de cada um desses termos, assusta um pouco a forma como as pessoas usam essa palavra. O problema não é a brincadeira de retrospectiva (pois é legal as pessoas compartilhando as coisas legais que viveram), mas o forte indicativo, presente na brincadeira, que as pessoas lidam erradamente com alguns conceitos que dizem respeito à nossa expectativa de “sentir o viver”.  

Sim, bebê. Temos um problema GRAVE se as pessoas acham que, por estarem tristes, não podem estar felizes e vice-versa. Pelo simples fato de que isso não é compatível com a prática do funcionamento do nosso eu no mundo.

E te digo com tranquilidade. Aexpectativa costuma ser a mãe regra de como vamos nos sentir no mundo.

Ora bolas…é totalmente possível estar alegre (momentaneamente) e vivendo uma d3pr3ssão. Também é possível e normal ficar triste, mas estar feliz, de forma geral com sua vida.

Em pleno 2025 as pessoas seguem pegando carona no bonde do desconhecimento para fugir do desconforto de sensações como a tristeza, tentando ou ignorar algo que é humano, necessário e fisiológico.

Se você entrou “desarmado” para ver um dia de redes sociais nesse fim de ano, dado esse viés exagerado de felicidade exposto de forma generalizada, é quase que inevitável que você se sinta mal. Fica parecendo que sua vida é péssima e só você tem problemas. Ainda que você saiba disso, racionalmente, o seu emocional vai te puxar para esse lugar em algum momento.

Vamos combinar um negócio? Você foi triste para um cacete em 2024. Muito triste. Só escolheu não mostrar ou ignorar por não saber lidar com isso. Mesmo com todas essas fotos incríveis e momentos únicos, você foi. Porque todo mundo foi. Porque é o normal e esperado mesmo em meio a felicidade.

Até porque, o que de fato é essa tal felicidade? Quem é feliz de verdade nessa vida? Quem consegue definir isso? Refletindo a complexidade desse sentimento é fácil deduzir que as pessoas provavelmente tiveram muitas alegrias, mas que dificilmente estão felizes como publicaram (só que nem sabem ou perceberam isso).

Por que falar disso agora? Por que acabar com a ilusão gostosa de esperança de felicidade nesse início de ano? Porque é necessário. Já está mais que na hora de tratar as coisas como elas realmente são. Para sofrermos menos por situações e questões que são irreais e desnecessárias.

Um 2025 de muitas tristezas para você. Também de muitas alegrias. E que lidar todas as emoções confortáveis e desconfortáveis te deixe mais próximo da lucidez de uma felicidade melhor construída e mais verdadeira.

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